terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Cadê a Graça?


 Nunca gostei de sair em bando. 

 Juntar uma galera e sair pra ir no cinema, comer, enfim, entreter.

 Não gosto de me ver cercada de gente e por isso cinema só dia de semana, a tarde, pra evitar multidão. 




 Também não gosto de restaurantes cheios e com música ao vivo, só frequentei churrascaria duas vezes na minha vida!

 Não me sinto confortável com barulho e com conversas atravessadas, gosto quando todo mundo pode participar do assunto e entender o que estão dizendo. Não suporto calor e no Rio, o calor não é uma sensação térmica, é um castigo.




 Então juntamos calor+multidão+barulho e isso definitivamente não resulta em diversão na minha conta particular.

 Gosto de sair com no máximo três pessoas ao mesmo tempo, assim temos número pares e ninguém fica sobrando, mais que isso não dá certo. E sair com quem tem os mesmo gostos que eu, afinal, deixar o restaurante dizendo que a comida tava muito apimentada, quando o outro tá rindo da sua cara porque ama pimenta, não é engraçado.

 Algumas vezes, quando era mais nova e fazia parte de um grupo de pessoas que divulgavam o mangá e cultura nipônica ( A quase finada Abrademi), até me aventurei a participar de 'eventos sociais' que o pessoal fazia.

 Numa dessas vezes fui com uma amiga numa festinha social, lá pelas bandas da Paulista, numa das suas alamedas, no play do prédio de alguém abastado. A tarde não foi maravilhosa, eu não danço em público (raramente isso acontece), não fazia parte do time de meninas que ficavam rodando atrás de seus alvos do sexo masculino e definitivamente não me encaixava no esteriótipo de garota disponível pra pegação.

 O que me sobrou foi bater papo com algumas pessoas aqui e ali, rir de um antigo companheiro de grupo (Anderson) com seus enormes dentes que gritavam por um aparelho urgentemente, vestido de Yoko Kurama (haja falta de senso estético) e no final do dia acompanhar geral pra casa de um amigo onde rolaria uma partida de RPG.

 Conhecia esse amigo e a casa dos pais dele, então fui com a minha amiga e o bando. Pegamos um ônibus, e como éramos um grupo de umas 10 pessoas, todos os passageiros olharam feio, mesmo não fazendo bagunça e o teor da conversa sendo vestibular e suas provas ridículas. Acredito que o Anderson vestido todo de branco, com meias no lugar de sapatos, toquinha de natal, rabo e orelhas de raposa, não ajudou a nos taxar como pessoas confiáveis.

 Chegamos a casa do meu amigo e o jogo não durou muito tempo, porque os mestres, Anderson e Cleyton, não facilitavam a vida dos jogadores e faziam de tudo pra ferrar com quem eles quando não iam com as suas cara. 

 Bom, me ferraram o suficiente pra me deixar impossibilitada por muitas rodadas até o final. 

 O jogo não durou mais que uma hora e depois disso, o clima mudou pra conversinhas isoladas em pequenos grupos e meninas colando em seus paqueras. 

 E novamente eu sobrei com a minha amiga. 

 Como a noite não prometia mais nenhum tipo do que eu considerava diversão, tava caindo de sono e pedi autorização pro dono da casa pra puxar um ronco, com a minha amiga, no quarto que ele dividia com o irmão. Permissão dada, nós subimos e caímos por lá, cada uma em uma cama.

 Dormi de umas 4 até umas 6:30 da manhã e acordei com aquela sensação de quem dormiu mal, toda torta (porque não tirei os sapatos, simplesmente deixei os pés pra fora da cama e fiquei numa unica posição todo o tempo). Levei a mão ao rosto, como é de costume de quem acorda e qual não foi a surpresa quando senti algo úmido em minha mão e no meu rosto.

 Cheirei, ainda meio lesada de sono e olhei pra mão, vi uma mancha branca, peguei meus óculos e depois da visão aperfeiçoada pelas lentes, constatei que tinha pasta de dente na minha mão. 





 E na mão da minha amiga.

 Havia também um pouco na minha roupa e no meu rosto, que devo ter manchado quando me mexi ao acordar. 

 Chamei minha amiga e a avisei da pasta de dente, fomos ao banheiro, nos limpamos e descemos. 

 O Cleyton e o Anderson tavam na sala, com o pessoal que havia atravessado a noite, segurando risos só esperando eu dar o 'show' de quem sofreu um bullyng. Claro que queria enfiar um tapa da cara de cada um deles, mas sempre tive controle o suficiente pra nunca dar pro agressor, seja ele de que tipo for, motivo pra me agredir ainda mais.

 Agradeci ao dono da casa, me despedi de algumas pessoas, comentei com meu até então amigo Jorge o que haviam me feito e ele confirmou que muitos viram quando o Cleyton e o Anderson subiram e desceram, rindo, as escadas e que certamente foram eles quem fizeram a 'tão engraçada brincadeira'.




 Depois de saber disso, dei bom dia a todos e voltei pra casa, mas não sem deixar de notar que os risinhos de ambos se transformaram em frustração por não verem em mim e na minha na minha amiga a reação esperada.

 O que o Cleyton e o Anderson fizeram foi detestável em vários sentidos e quem acha que foi uma brincadeira ingênua não percebe o grau de seriedade da ação.

 Eles não simplesmente entraram no quarto, onde dormíamos sozinhas, passaram pasta de dente nas nossas mãos pra que quando acordássemos nos manchássemos ainda mais e deixaram nossos rostos cheirando a pasta de dente. 

 Só não contaram que eu e minha amiga podíamos ter esfregado os olhos e ter nos causado dor e transtorno. Sem falar na violação de espaço pessoal e da humilhação que sofremos.

 Mas eles eram moleques idiotas e de idiotas sempre temos de esperar ações assim. O que me deixou triste foi saber que pessoas, que eu considerava amigas, viram o Anderson e o Cleyton subirem, viram quando desceram rindo, sabiam o quanto eles tinham maniam de me provocar e aprontar comigo e mesmo assim, nenhum deles sequer se deu ao trabalho de averiguar o que eles poderiam ter feito. 




 Sendo que, era de conhecimento do grupo todo que estávamos apenas eu e minha amiga no andar de cima, logo, não é preciso ser gênio pra imaginar que haviam aprontado alguma... ou será que imaginaram que ambos tinham ido ao toilet juntos? 

 Desde então me isolei mais de sair em bandos. Principalmente quando não são amigos de verdade, e como amigos mesmo eu posso contar nos dedos das mãos, prefiro sair em número parco. Por incrível que pareça, pra mim, sair com menos gente é mais seguro.

  Sem contar que no meio de multidão, muitos 'amigos' podem se tornar babacas e se omitir quando uma situação como essa acontece e não me espantaria se até rissem juntos. É o consciente coletivo falando mais que o bom senso ou o respeito ao outro ser humano.




  Mas, como agora sou adulta e transformei essa experiência ruim em aprendizado, posso dar ao Cleyton e ao Anderson o que lhes tirei, há mais de 15 anos:

 Podem rir, meninos! Riam porque o bullyng deu certo! Riam porque minha roupa ficou suja e eu voltei pra casa cheirando a menta. Riam porque quando eu acordei meu rosto ficou coberto de pasta de dente! 

 Riam da graça que lhes privei quando ignorei a provocação, por não ter achado a mesma graça que vocês dois. 


 Riam, porque ri melhor quem ri por último.




2 comentários:

Blue Madness disse...

"Não me sinto confortável com barulho e com conversas atravessadas, gosto quando todo mundo pode participar do assunto e entender o que estão dizendo." Finally, someone understands!

Po Fran, dormir na casa dos outros sempre é problema, ainda mais pra garotas. Eu fico grato que não aconteceu nada mais sério, tanto com a própria pasta de dente, tipo o negócio do olho que cê mencionou, quanto com.... as possibilidades....

Dee Soares disse...

Compartilho do mesmo pensamento que você Fran. Também não consigo me sentir confortável em um ambiente barulhento e demasiado cheio. As pessoas tendem a ser tornar menos educadas quando estão frente a um grande público. Sem mencionar que sempre tem aquela pessoa sem um mínimo de senso que acredita ser necessário agir como o "palhaço do grupo". Sempre precisam de uma plateia para seu showzinho particular, não é raro usar de "gracinhas" contra outra pessoa para atrair mais risos e atenção.Infelizmente esse tipo de gente existe e infortunadamente iremos nos encontrar com elas durante a vida.
Entendo também o seu sentimento quando nenhum de seus "amigos" foram averiguar o que o Anderson havia feito. Acreditava que eu era a única a sofrer com "más" amizades.. descobrir que pessoas que você julgava seus amigos não o são de verdade, dói bastante.