segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Lar Doce Lar - Minha Casa, Minhas Regras





 Eu amo a minha casa.

 Amo muito. Se pudesse não saia de casa, tudo o que precisasse estaria aqui, mas isso é utopia então vamos fingir por um momento que eu não sou um caramujo.

 O caso é que gosto tanto da meu cantinho porque aqui fico a vontade, de pijama o dia todo, fazendo (ou não) minhas coisas, com tudo a mão e esse é um dos motivos d’eu não visitar tanto as casas de amigos ou conhecidos.

 Esse é o primeiro deles, o segundo é que eu morro de medo de incomodar quem quer que seja, mesmo quando de um convite dado de coração, tenho receio de incomodar a pessoa com meus hábitos e minhas restrições.

 Tenho alguns problemas de saúde que me impedem de comer qualquer coisa e me obrigada a ter certas rotinas diárias e dieta, então não gosto que alguém se sinta obrigada a ter isso à disposição pra mim, mesmo se oferecendo e me convidando.

 Ainda outro motivo é um trauma de infância que me fez perceber que nem sempre um convite quer dizer que alguém queira realmente que você freqüente sua casa.

 Quando eu tinha uns 11 ~ 12 anos, recém chegada do interior onde morei dos 4 aos 10 anos, fiz amizade com duas irmãs mais ou menos da minha idade: Tati e Lu.

 Eu me dava melhor com a Lu por sermos mais parecidas em assuntos e comportamento, a Tati era mais ‘mocinha’, ‘menininha’, ‘delicadinha’ e como eu sempre fui... erm, eu, não tinha tanto papo com ela, mas gostava de conversar quando estávamos perto porque nunca fui do tipo de isolar alguém num bate papo.

 Mesmo achando que ela não ia com meus cornos... o.o’

 Enfim, algumas tardes as visitava em casa, porque morava com meus avós e acreditem, não havia NADA pra se fazer na casa deles, na época nem TV em casa meus avós tinham, por isso não as convidava pra me visitarem ao invés de ir até a residência delas.

 Então algumas vezes eu ia até lá pra conversar e brincar um pouco. Numa das vezes estavamos conversando na cozinha quando a mãe delas (outra que aparentemente nunca foi com meus cornos) comentou pras filhas ‘sobre fazermos poucos os passos na casa do próximo pra que ele não venha a nos odiar’.

 Sim, conhecia esse texto, e sim, eu sabia que era uma (in)direta pra mim porque ela sabia muito bem que eu conhecia o texto.

Me senti com uma pedra no estomago aquele dia, a sensação ruim de estorvo, mesmo nunca aceitando almoçar ou lanchar, evitando passar muitas horas por lá, respeitando horários e limites e até volume de voz eu sempre tive o cuidado de controlar... Mas claro que não bastou, pelo jeito estava passando tempo demais em companhia das filhas dela (até então as únicas amizades que havia feito recém chegada da cidade onde morei) e desde esse dia só voltei à casa das duas pra levar ou receber algum recado ou pra algum tipo de reunião.

 Acredito que a mãe delas era uma adulta infeliz sem tato que devia tomar mais cuidado ao falar sobre as regras da casa na frente de uma criança, pois se não me queria lá, podia conversar com as filhas e aos poucos as duas me afastariam. Seria pelo menos humilhante pra mim, embora não menos triste.

 A segunda vez foi durante uma visita a casa do meu pai, onde ele mora com a segunda esposa. Estávamos eu e minha irmã fazendo criancices (eu com oito anos e ela com 13), pulando no sofá, ok, admito que passamos do limite, mas da maneira infantil que víamos estávamos na casa do meu pai também.  Obviamente a filha da segunda esposa, da idade da minha irmã, não achava assim. Ela nos olhou feio e disse pra pararmos, pois não estávamos na nossa casa pra fazer o que quiséssemos.

 Nunca contei pro meu pai o que ela fez, acho que ele não se interessaria pela maneira como éramos tratadas de modo geral, já que se morava ali agora era porque havia trocado a nossa família por aquela.

 Depois dessas experiências desagradáveis passei a controlar ainda mais as visitas a amigos e quando convidada eu até apareço, mas tento passar por invisível mesmo, dar o mínimo de trabalho e voltar logo pra minha casa, onde sei que não serei um estorvo.

 Exatamente por isso fico tão incomodada com visitas mal educadas e por causa do trauma não consigo dizer umas boas verdades pra essas pessoas quando elas são desagradáveis debaixo do meu teto.

 É minha máxima não maltratar alguém que esteja entre minhas paredes, pois sei o que é ser maltratada estando em casas alheias, por essa mulher, pela filha da segunda esposa do meu pai... traumas, traumas.

 Por manter o hábito de tratar decentemente as pessoas que me visitam, já tomei muito na cara: Já tive meus móveis chamados de ‘merda’ por uma burguesinha morta de fome da zona sul, que inclusive já me havia mandando enfiar minha almofada no... vocês sabem onde. O que ignorei prontamente pra não humilhá-la mais do que a vida já se encarregou de fazer.

 Já tive uma asiática mal educada cobrando a agilidade no meu esposo na cozinha, durante um final de ano de calor insuportável no Rio, quando ele cozinhava o jantar pra todo mundo e ainda fazia intervalos levando suco, sorvete e lanches pra gente. A criatura rinocerônica teve a pachorra de ir até a cozinha, olhar no relógio e dizer ‘Tô com fome, Guilherme, vamo! Tá demorando!’


 E  só soube disso depois que ela sugeriu que eu não servia pra ser mais amiga, então meu esposo me contou essa pérola de educação dela aqui na minha casa, onde a recebemos mais de 4 vezes! Educação definitivamente é artigo de luxo que quase ninguém compra esses dias.

 A última vez que passei por aborrecimento foi recentemente, onde recebi alguém que tardiamente soube que não gosta de mim. Vejam bem, a pessoa visitou a minha casa, me fez perder tempo, cozinhar, tentar agradar (mesmo passando por uma crise de dor) e não gostava de mim. Sério, essa eu quero esbofetear muito.

 Quem me conhece, que é amigo intimo mesmo, eu convido pra minha casa e se convidei... colega! Você é muito querido! Porque não abro minhas portas pra qualquer pessoa e quando abro, tenho por hábito tratar muito bem.

 Invento de cozinhar, tento manter a pessoa confortável, fazer compras... e o Guilherme é ainda mais hospitaleiro do que eu o que torna tudo ainda mais receptivo pra quem nos visita.

 Então, creio que se a pessoa não vai com a minha cara, pra que se dar e me dar (principalmente) a esse trabalho? E justamente depois d’eu prometer a mim mesma que nunca mais receberia gente estúpida em meu lar?

 Lar é um lugar sagrado, é onde se repousa, medita, cuida da vida... entrar na casa de alguém quando não gosta dessa pessoa é deturpar o lugar, é fazer com que ela engula sua presença no única lugar onde ela se protege de gente como você.

 Então, a tia Fran da uma dica de ouro: Se não vai com os cornos da pessoa, faça como eu – Não a visite. Não coloque os pés em sua casa, não a obrigue a suportar seu comportamento desagradável e sua presença dispensável.

 Resolvi postar esse assunto porque recentemente estava lendo uma revista Época com dicas de como se comportar na casa dos outros, durante visitas de férias, e me lembrei desse episódio... Como sei que são dicas preciosas e que todos deviam seguir, vou postar aqui pra vocês e acrescentar algumas de minha autoria:


 O que Fazer na Casa dos Outros:

 1 – Tratem a casa dos outros como um palácio, não deixem o banheiro molhado ou cheio de cabelo na pia, cinzeiros sujos (ou não fumem na casa se os moradores não forem fumantes), não sentem nos braços do sofá, não subam em camas ou sofás de tênis ou sapatos, não larguem copos ou pratos em todos os cantos, arrumem sua próprias camas, não sentem em bancadas de cozinha ou outros lugares que obviamente não foram feitos pra sentar



 2 – Façam gentilezas aos anfitriões, como levar o cachorro pra passear, cozinhar, trazer flores ou pequenos agrados

 3 – Nunca tratem as pessoas que trabalham na casa como se fossem seus empregados, aliás, não tratem mal nem os seus próprios empregados

 4 – Não fiquem horas no banho, não faça barulho, não fale alto, não faça apenas o que é divertido pra você (como jogar vídeo game quando os anfitriões não estão a fim de fazer isso), tirar coisas do lugar e não colocar de volta, não faça interurbano, não dê trabalho

  5 – Não usem o computador como se estivesse em casa, não usem o computador ou iphone e deixem o dono da casa isolado enquanto conversam com amigos de outros locais via web, se precisar conferir e-mail, peçam e usem apenas o tempo pra conferir e responder os mais urgentes


 6 – Circularem de pijama pela casa dos outros é um absurdo, vistam roupas cotidianas antes de sair do quarto

 7 – Respeitem os horários e hábitos do lugar, se o almoço for servido às 13 horas, esteja pronto às 13 horas

 8 – Não falem palavrão à mesa de jantar (eu já v acontecer na frente de uma família toda e é uma vergonha alheia)

 9 – Não combinem passeios ou compromissos demais, fica cansativo e causa mau humor

 10 – Não façam programa que exija que uns esperem os outros, isso nunca dá certo

 11- Gente que não tem os mesmo gostos/hábitos não devem sair juntos: Esportistas x Nerds, Baladeiros x tímidos/nerds, matutinos x boêmios, consumistas x anticomsumistas

 12 – É péssimo nunca ter dinheiro pra pagar suas contas, não deixe seu anfitrião pagar tudo o tempo todo, viaje ao menos com o dinheiro da alimentação, sempre que possível tente dividir a gasolina/estacionamento/mercado

 13 – Não é porque o anfitrião vai pagar a conta do restaurante que você deve pedir o prato mais caro ou o vinho mais fino, bom senso com o dinheiro alheio faz bem

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 Claro que existem algumas outras regrinhas básicas, que variam de lugar pra lugar, mas as mencionadas acima suprem bem as necessidades pra que suas visitas sejam agradáveis tanto pra vocês, como aos donos da casa.

 De minha parte, já aprendi a lição: Na minha casa agora só entra amigos íntimos e pessoas bem educadas.



***

9 comentários:

Unknown disse...

Certíssima! Entendo muito bem tudo o que postou e sei exatamente como se sente. Eu e minha irmã costumamos receber pessoas queridas em casa - temos prazer em cozinhar e é uma diversão as pessoas por aqui. Mas pessoas novas, só se forem trazidas pelos amigos que já sabem como "combinar" as visitas e os grupos.

Unknown disse...

Fran, ótimo texto-testemunho-desabafo! Sei como se sente. Há um provérbio, que aprendi faz pouco tempo com um casal de amigos, que cai como uma luva: "O hóspede, assim como o peixe, passados três dias começará a feder." Há pessoas que não respeitam o espaço alheio. E o lar, nosso templo sagrado, nosso ninho e esconderijo, merece todo o respeito do mundo, assim como nossos hábitos e manias do cotidiano. Por exemplo, eu tenho uma gata, Margot, que não considero meu animal de estimação, mas sim minha companheira de jornada. Me recuso a receber em minha casa quem não goste de gatos!!! Seria tão ofensivo a mim quanto se eu tivesse filhos e recebesse alguém que diga que odeia crianças! Sou do seguinte princípio: se não respeita minhas regras, não venha me visitar, ok? E se não me faz bem, sinta-se convidado a se retirar da minha vida. Sem ressentimentos. Não tem coisa mais salutar. =)

Dada Costa disse...

Eu detesto tratar alguém bem e depois descobrir que ela não gosta de mim, ainda mais por um motivo idiota. Na época em que eu namorava e convivia com a família e os amigos da família do meu afeto, vivi uma situação assim. Ao cumprimentar uma amiga da família, ela mal olhava pra mim. Dava um beijo no rosto e já sai falando com qualquer outra pessoa que estivesse por perto e deixava o meu cordial "como você está?" não ar, ignorado. Meses depois, em uma conversa com até então meu namorado, ele me conta que ela não gostava de mim, pois ela queria que ele namorasse a filha dela. Beleza, achei melhor assim, pelo menos não me dei mais ao trabalho de agradar alguém que transborda babaquice.

Joy disse...

Eu me sinto como você em relação a minha casa: se pudesse, ficaria aqui o tempo todo. Confesso que não sou muito fã de visitas mas, no meu caso, é mais complicado porque moro com a minha avó. Pra mim, ela é a dona da casa e decide quem entra e sai. E ela gosta de visitas tanto quanto de baratas. Por isso, deixo de trazer meus amigos aqui. São regras, e eu gosto de viver sob regras, gosto de ordem. Mas é muito difícil fazer as outras pessoas entenderem isso. Fica parecendo que eu sou má ou que penso exatamente como minha avó, enfim, tudo errado. Só de ler, me deu raiva do comportamento dessas pessoas que você citou, que visitaram sua casa. Tem muita gente assim, que não sabe respeitar, não tem educação e acha que o mundo é assim mesmo... Lamento, e espero que tenha mais sorte nas próximas vezes.

Emmy disse...

Adorei o texto!
É por aí que me sinto também...
Uma das coisas que menos gosto é de estar em casas alheias e não sou muito fã de circulação na minha.

mylena disse...

Gostei bastante do texto, muito bem escrito e demonstra o que a maioria das pessoas sente sobre esse assunto. Adorei as dicas também, muito interessantes! Super usáveis e recomendáveis hahaha. (:
Tenha uma ótima semana, beijo.

Blue Madness disse...

"Na minha casa agora só entra amigos íntimos e pessoas bem educadas." E faz bem, Fran!

Isso de tratar as pessoas mal e como se fossem empregados, me faz lembrar de um episódio na casa do meu pai. Em um dia onde tinha bastante gente da família reunida lá, depois da refeição, uma galera se reuniu para lavar a louça. A esposa (atualmente ex-esposa) do meu tio, então, tem a brilhante ideia de chamar essas pessoas de "empregadas" do meu pai, dentre as quais estava, inclusive, a ESPOSA do meu pai (minha madrasta). Obviamente, todos se ofenderam com isso, mas meu pai mais do que todos, sendo o dono da casa, e sempre fazendo questão de tratar bem seus convidados. Atualmente, ela já não é mais parte da família, e eu sempre fico feliz por lembrar disso (sempre odiei ela, mesmo antes disso).

Unknown disse...

Concordo com todo o seu texto! Não entendo gente que arrasta meio mundo (amigos ou nem tanto) pra dentro de casa por qualquer motivo, e a toda hora!
E eu me sinto super lisonjeada por já ter visitado você! <3

Amanda disse...

Uma coisa que eu não gosto é quando a pessoa vem em minha casa sem avisar, é chato pois as vezes você não quer receber ninguém, não esta num dia legal ou a casa ta uma bagunça.
Sempre que quero visitar alguém, ligo antes pra saber se posso ir...
E essas dicas que tu deu são bem boas. :)
Beijocas.